19.12.13

Sherlock BBC - teorias à última da hora

A quinze dias do final do ano e do regresso da série Sherlock da BBC (agendado para 1 de Janeiro, yupi yupi yupi), o ermita resolve registar aqui também as suas teorias, para juntar mais umas quantas à grande lista de alvitres que proliferam pela net desde que o nosso herói deu um trampolinázio de um telhado abaixo e se esborrachou no passeio – mas afinal continua inteiro e vivo e tudo.

A campanha dos fãs #BelieveinSherlock foi de facto muito fixe, cruzando a realidade com a ficção, e espero bem que a BBC tenha aproveitado para meter algumas buchas sobre isto na própria série. Basicamente, a malta andou a espalhar cartazes por todo o lado com as frases I believe in Sherlock Holmes e Moriarty was real.



Mas a campanha tem um erro: o Moriarty não era real. Ou melhor, lá existir, existia, evidentemente, mas o nome dele era Richard Brook – um actor apagadito que resolveu fazer uma carreira paralela como consultor criminal, sob o pseudónimo de James Moriarty.



De facto, as provas que ele apresenta não podem ser forjadas; qualquer jornalista conseguiria seguir a pista do Rich Brook pela imprensa, encontrar registos dele nas escolas por onde passou e confirmar os trabalhos que fez na televisão e no teatro, coisa que pelos vistos ninguém conseguiu fazer em relação ao Jim Moriarty:



- “sem morada fixa”, ou seja, sem registo de residência em parte nenhuma.



- “o ‘homem misterioso’ da Irlanda, James Moriarty”
- “muito pouco se conhece sobre o mestre do crime”

E já agora, um recadito para o pessoal da produção: para a próxima vejam lá se têm mais atenção aos adereços, porque depois vem uma chata como eu espiolhar o filme frame a frame e topa que há uma notícia com data de 5 de Outubro de 2011 anterior a uma de 20 de Setembro de 2011, seguindo-se ainda um cabeçalho sem data, ou melhor, de xxxx do xxxx de 2011, oh aqui:



Já para não falar nos parágrafos das notícias que estão repetidos. Ok, no filme aquilo passa tão depressa que ninguém consegue ler nada, mas têm de contar com os picuinhas que vão ver tudo à lupa. Aliás, de facto contaram connosco porque os e-mails e os websites que aparecem na série (muito de fugida, só legíveis nas frames) são ovos da Páscoa; estão a funcionar e até respondem ao pessoal. O e-mail que está no currículo do R. Brook, por exemplo, responde com uma mensagem automática do próprio a dizer que se encontra ausente. Portanto bem que podiam ter dado mais atenção aos outros pormenores – digo eu, que sou do piorio.

Mas voltando à questão da identidade: um actor é um tipo facilmente reconhecível e provavelmente teria havido muita gente a comentar que o maluco que assaltou a Torre de Londres era a tromba chapada do fulano que fazia de anestesista na série da televisão e que contava histórias às criancinhas no canal dos putos. A beleza da coisa é que toda a gente acreditaria que era apenas uma parecença. Era outro homem, claro, tinha um nome diferente, a bófia tinha-o identificado devidamente, portanto não haveria dúvida nenhuma, né? Ele estava escondido à vista de toda a gente.



Como diz o próprio Sherlock: “A arte do disfarce é sabermos esconder-nos à vista de todos.” (e agradeço imensamente ao pessoal que legendou a série para a net em tempo record, mas foi uma pena o trabalhinho não ter tido mais revisão).

E depois, convenhamos, nenhum mestre do crime que se preze iria usar o próprio nome. E embora poucos lhe conheçam a cara, andámos a ouvir desde o primeiro episódio que Moriarty é um nome famoso no underground. Portanto não pode ser verdadeiro.

Nesta altura há com certeza por aí alguém com o dedo no ar para falar no quadro. O Moriarty não escolheu o nome de Rich Brook por causa do título; ele escolheu o quadro porque se chamava “Cataratas de Reichenbach” – e a partir daí arquitectou o roubo daquela pintura específica, deixou uma série de pistas e criou a fama do Sherlock como o “herói de Reichenbach”.

Até aqui nada de novo – mas ainda não encontrei na net nenhuma explicação convincente para todo este jogo do Moriarty, que implicou uma trabalheira do caraças só para fazer o Sherlock cair em desgraça. Vamos ver então mais atrás.

No episódio da Irene, o Moriarty lixa os planos do avião, que os serviços secretos britânicos, alemães e norte-americanos tanto trabalhinho tinham tido a preparar. Ou seja, desta vez ele não se limitou a dar conselhos sobre a melhor maneira de cometer um crime; ele meteu-se onde não devia. E lixou-se, evidentemente, porque o episódio do cão termina com o Moriarty numa cela de cimento e o Mycroft a olhar para ele do outro lado do vidro. Lembram-se?



Ok… “let him go” porquê?!!! O sacrista denunciou uma operação secreta aos terroristas e por causa dele muita gente poderá ter morrido (as cerca de trezentas pessoas que um avião daqueles leva lá dentro, se o plano dos terroristas continuou de pé). E depois disto abrem-lhe a porta e deixam-no ir à vida dele? O fulano da CIA não o leva para Guantanamo nem nada, para lhe fazerem um daqueles famosos tratamentos à sinusite?
Podemos então depreender que o Moriarty foi libertado porque fez um acordo. Ora por aquilo que ouvimos do Mycroft, ele parecia decidido a deixar-se matar à estalada, sem nunca abrir o bico.



A única maneira de o convencer a chibar-se foi contar-lhe histórias sobre o Sherlock. Imagino então uma cena do estilo Hannibal / Clarisse, “respondes à minha pergunta e eu respondo à tua”.



Duvido um bocado que o chibanço fosse o suficiente para o deixarem sair, mas como isto é tudo fita, vamos imaginar que sim. …Ou então, que o Moriarty concordou em servir de agente duplo para o Mycroft e passar informações falsas aos seus contactos entre os terroristas – é possível. E justificaria a libertação. É só uma hipótese, claro. E no entanto… [eu já cá volto]

Fosse como fosse, depois de o libertarem ele estaria lixado. Ah pois. Não se lembram da cena da Irene?



Saber demasiados segredos, passar uma temporada sob interrogatório e a seguir sair em liberdade não é lá muito bom para a saúde. Os seus próprios clientes iriam despachá-lo na primeira oportunidade só por precaução.

É então aqui que entra o plano mirabolante de arrombar três locais com alta segurança e de fazer crer que possui uma chave de código capaz de fazer milagres. O pedacinho do jornal que já vimos ali em cima dizia exactamente que os psicólogos não entendem o motivo para ele ter atacado uns alvos tão proeminentes:



“Os psicólogos têm discutido o motivo para os crimes tão incrivelmente visíveis de Moriarty. Um pedido de ajuda, talvez; seguramente um pedido de atenção.”

Pois o motivo é o facto de ele precisar da propaganda. É isso que o vai manter a salvo durante mais algum tempo, até alguém perceber que foi tudo uma fraude. Por enquanto, todos os que podiam fazer tenções de lhe limpar o sarampo estão antes a tentar comprar-lhe a tal chave:



Quando o Sherlock lhe pergunta porque é que ele iria vender a chave se pode ter tudo o que quiser com ela, o Moriarty diz-lhe exactamente que só quer é ver o pessoal todo a tentar comprá-la.



Ou seja, ele não quer dinheiro, ele quer é tempo. Enquanto os outros andam à bulha em negociações, o Moriarty vai-se mantendo vivo (staying alive…). Mas ele sabe que o embuste não vai durar muito.
De facto, o próprio plano da chave é já um suicídio. Ele pôs a malta toda a querer comprar-lhe uma coisa que não tem – e assim que alguém perceber que a chave não existe, ele está feito ao bife (ou em bife). E já que vai quinar, quer aproveitar o tempo que lhe resta para terminar a sua questão com o Sherlock. Porque ele não suporta deixar assuntos pendentes:



O assunto pendente é acabar com o Sherlock, tal como lhe prometeu na piscina:



Ou seja, nesta altura o Moriarty prometeu que haveria de acabar com o Sherlock, mas que o está a guardar para uma ocasião especial – agora que ele próprio está condenado, não poderia haver ocasião mais especial – e ainda que o iria queimar, ou seja, que lhe arruinaria a reputação antes de acabar com ele.
Quando o Moriarty fala no “coração” do Sherlock, estará provavelmente a referir-se ao seu orgulho. Ser desacreditado publicamente iria com certeza deixá-lo de rastos.



“Eu disse-te qual era, mas estavas a ouvir?” – o Moriarty está a referir-se à promessa que lhe fez na piscina e a que acabou de aludir com a história do Bach e da melodia interrompida.



Resolver o “problema final” inclui rematar o assunto pendente. Eu vou desta p’ra melhor, mas tu também não ficas cá. O problema é justamente final porque implica a morte dos dois – a partir daqui não haveria mais nenhum problema para resolver, porque estariam os dois a fazer tijolo. No entanto, não é apenas um ajuste de contas.

Um dos resultados deste jogo é o “branqueamento” do Richard Brook. Se o Sherlock for uma fraude, que cometeu uma série de crimes só para poder apresentar deduções inacreditáveis e passar por herói, então o Moriarty nunca existiu e o Rich Brook morre inocente – no entanto ele tem mais perfil de quem gostaria de ficar com a devida fama de ser um cérebro do crime, portanto não me parece que isto fizesse parte dos seus objectivos; é mais uma consequência.

O “problema” aqui é o “estou a dever-te uma queda” – o célebre IOU – ou seja, quando o Sherlock cair também, o problema fica resolvido.



Ora bem, se o Moriarty lhe está a dever uma queda, isto quer dizer que ele acha que o Sherlock é causa da sua própria queda. Mas qual queda, se até aqui ele só tem estado a mostrar que está na maior? Tem uma chave para vender, uma data de malta a querer comprar e o Sherlock até o ajudou na propaganda – e ele está ali a tomar chá só para se gabar disso mesmo. Ok, como já disse, é claro que não é nada disto – o Moriarty sabe que está condenado e com esta frase ele está a atribuir a culpa da sua desgraça ao Sherlock. Está a dizer que foi ele quem provocou a sua queda e que agora lhe vai fazer o mesmo.

A queda do Moriarty começou no momento em que foi apanhado. Mas quem o apanhou foi o Mycroft, não foi o Sherlock. Ou será que foi? Sabemos que a Irene tinha o contacto do Moriarty no telefone, que o Sherlock conseguiu desbloquear. Terá sido por isso? Assim de repente, parece-me pouco. Até porque nesta cena o Mycroft dá a entender que já o tem em mira, portanto não precisaria das informações do telemóvel para lhe deitar a mão:



Mas é muito possível que o desbloqueio tenha contribuído para o agarrarem mais depressa, pois.

Segunda hipótese: a interferência do Sherlock nos assuntos do Moriarty ter-lhe-á estragado a reputação como consultor criminal. Depois de se ter deixado apanhar pelo Mycroft (vergonha total para alguém que achava que ninguém conseguiria dar com ele), ficou desacreditado no meio e os clientes viraram-se contra ele. Por isso agora quer desacreditar o Sherlock como detective consultor.


(permitam-me uma pequena correcção nas legendas) 
JM – Nunca ninguém chega até mim. E nunca ninguém irá chegar.
SH – Eu cheguei.

Tem a sua lógica, mas sinto que falta aqui mais qualquer coisa.

Por outro lado, o Moriarty conhece as capacidades do Sherlock desde o tempo do Carl Powers. O interesse/admiração cresce quando o Sherlock abre o blog e ele lhe começa a mandar mensagens como o anonymous e muito provavelmente como o theimprobableone, um fã entusiasta que até lhe propõe que vá morar com ele quando o Sherlock diz que saiu da casa onde estava:



Podem ser de facto duas pessoas diferentes, contudo o pseudónimo escolhido traz claramente água no bico. Mas isso também não interessa, porque sabemos que o Moriarty acabou por ficar completamente obcecado com o Sherlock:



A cela toda grafittada pelo Moriarty no final do segundo episódio – e mais um indício de que ele responsabiliza o Sherlock pela situação em que se encontra.

Mas quem se colocou nesta situação foi ele mesmo, no momento em que decidiu prolongar o jogo. Na cena da piscina, o Sherlock ameaça explodir a malta toda, mas o Moriarty parece decidido a testar-lhe os limites, sem mostrar tenções de mandar baixar as armas. Ele só faz isso quando a Irene lhe oferece uma oportunidade para continuar a jogar com o Sherlock. E nessa altura dispensa os atiradores. Não por estar com medo de ir pelos ares, mas por não resistir a mais um jogo.
E a seguir entrou em terreno demasiado perigoso, meteu-se com quem não devia e acabou a levar chapadas numa cela de betão.
Não gosto nada da explicação, mas isto lembra-me aquele pessoal que tem um parafuso meio desatarraxado e que culpa o objecto da obsessão pelo seu próprio comportamento obsessivo – como aqueles fumadores inveterados que processam a tabaqueira, estão a ver? Pois. Se este for o caso, eu ia detestar a justificação, mas pronto.

Conclusão: todas as hipóteses me parecem vagas e fraquitas e o facto é que não percebo como é que o Sherlock pode ser o responsável pela queda do Moriarty. Provavelmente será tudo isto junto e mais alguma coisa que me está a escapar.

Voltando um bocadinho atrás, a propósito da cela grafittada e do quid pro quo no interrogatório: o facto de o Mycroft ter libertado o Moriarty, sabendo que ele estava obcecado pelo irmão, parece apontar de facto para um acordo entre os dois. O Mycroft tinha de estar bastante seguro de que o maluco não iria limpar o sarampo ao Sherlock na primeira oportunidade. Vou mais longe (= especulação da grossa):



Ou eu me engano muito, ou o Mycroft faz questão de validar a história da chave à força toda. Mais – ele diz que o Moriarty é o maior génio do crime. É quase como se também estivesse a fazer propaganda da chave. E reparem que ele não responde directamente quando o John lhe pergunta se o capturou para lhe sacar o código. Ele só diz que o interrogou durante semanas e deixa o outro pensar que foi por causa da chave. No entanto, sabemos que o Moriarty foi preso antes dos arrombamentos.
Se o Mycroft quisesse saber alguma coisa sobre o código, a tal arma decisiva que está na posse da mente criminosa mais perigosa que existe, como ele próprio afirma, teria transferido o Moriarty para uma das suas celas assim que o prenderam, de onde o sacrista nunca voltaria a sair vivo. Ninguém no seu juízo perfeito iria deixar aquele perigo público à solta, capaz de usar ou de vender uma arma tão temível (“Posso destruir a NATO por ordem alfabética” – adorei esta).
Mas não, o Mycroft não fez nada disso porque já sabia que a chave era falsa. E sabia disso porque ajudou o Moriarty a montar o esquema todo.
 Imaginem a cena:
- Se te chibares, ‘tás livre.
- Se eu me chibo, ‘tou morto. Ou melhor, ‘tou morto assim que sair daqui, nem preciso de me chibar.
- Então tens de arranjar um motivo para todos te quererem vivo.

E foi nesta altura que inventaram a história da chave. O Mycroft só não podia imaginar que o Moriarty fosse usar as informações que lhe tinha sacado para tramar o Sherlock – porque, em princípio, falar de factos e episódios corriqueiros da vida de alguém não constitui nenhuma ameaça. Não era exactamente informação top secret. E já que o outro lhe ia dando umas quantas informações em troca… porque não?



E já agora, porque é que o Sherlock e o Mycroft estão de relações cortadas?



É evidente que houve uma discussão altamente cabeluda entre os dois, a que o John não assistiu. E eles discutiram porque o Mycroft libertou o Moriarty, ora pois claro.
Nos termos em que os dois manos estavam nos outros episódios, é provável que o Mycroft tivesse dito muito naturalmente, com aquele ar de quem não quer a coisa, “não te preocupes mais com esse gajo, que eu já lhe deitei a mão” – sorriem-se os dois, não falam mais no assunto e a coisa fica por aqui. Entretanto passam uns tempos e o Moriarty reaparece em grande, de coroa e ceptro e tudo, a arrombar a Torre de Londres. Podemos imaginar o Sherlock a pegar no telefone logo a seguir e a armar um sarrabulho do caraças com o irmão. Começaram no Moriarty e acabaram a desenterrar os ressentimentos todos. O caldo entornou de tal maneira que o Mycroft só lhe pede desculpa através do John:



No entanto, embora esteja desolado com a iminente humilhação pública do irmão, o Mycroft não parece aperceber-se de que o Moriarty não lhe quer destruir apenas a reputação – ele quer dar-lhe cabo do canastro. Aliás, o próprio Sherlock só tem a certeza de que o outro lhe vai limpar o sebo depois de o encontrar no apartamento da Kitty (o momento em que finalmente percebe o esquema todo).
O Mycroft também só terá começado a calcular que as intenções do maluco eram bem mais perigosas no momento em que o John lhe ligou do táxi e lhe contou que o Sherlock o tinha mandado à caça dos gambozinos só para o afastar do Barts. …Ah não viram essa cena? Eu também não. Mas com quem mais é que o John pode estar em contacto através do auricular quando chega ao hospital?



É um bocado difícil de ver, não é? Demasiado rápido. Então vejam aqui na photo:



O John tem um aparelhinho enfiado no ouvido – no ouvido do telemóvel, note-se. Ou seja, ele esteve a transmitir a alguém a sua conversa toda com o Sherlock. Há também a hipótese de ser o Lestrade que está a ouvir, mas é muito mais provável que seja o Mycroft, que está mais a par das trapalhadas entre o irmão e o Moriarty, e é menino para ter dado um dispositivo destes ao John, com a desculpa de surgir alguma emergência (= boa desculpa para espiar o Sherlock).

O auricular acaba por ter um fim triste quando o ciclista atira o John ao chão:



O zumbido eléctrico quando o John está caído no alcatrão é o barulho do coisinho a dar o pandeco e a deixar-lhe a cabeça a zunir. E a seguir, quando se levanta, o auricular já lá não está. Viram?



Já muita gente falou nisto e há quem acredite que as coisinhas a brilhar no chão são os pedaços do auricular. Não são. Aquilo são só bocadinhos de pedra misturados no asfalto. O auricular desaparece simplesmente de cena.

Embora existam vários erros de continuidade entre o atropelamento do John e o momento em que ele chega ao pé do Sherlock (o camião dos plásticos que já lá não está e depois volta a estar, a aproximação dos mirones, em que há uns que já chegaram e logo a seguir ainda vêm a chegar) – e vamos supor que são apenas erros de continuidade – não acredito que o Martin Freeman se tenha esquecido de tirar o auricular do ponto durante as gravações, portanto o aparelhinho aparece ali de propósito.

E já que se fala de pormenores e de aparelhinhos – toparam o ruído do telemóvel assim que o Sherlock fica sozinho, depois de pedir um momento de privacidade ao Moriarty? Este ruído, escutem bem:



Ele mandou um sinal à Molly, provavelmente uma mensagem a avisar “aí vou eeeeeeeu…!”, para ela pôr em acção o dispositivo que lhe vai aparar a queda e mandar avançar o grupo dos compinchas.

Aliás, o papel dos telemóveis nesta série é uma delícia, por serem tão indispensáveis à trama e por conseguirem manter a fidelidade ao universo do Conan Doyle. O Sherlock original passa a vida a mandar telegramas – prefere mandar mensagens do que falar directamente, tal como nesta versão. Claro que aqui o timing é muito diferente. Não é preciso chamar um puto e mandá-lo aos correios enviar um telegrama.
E o timing é absolutamente exacto. Como nesta cena (dividida em duas, por causa das leis de copyright do youtube):






Toca o telemóvel do John. Para o Sherlock, isto é o sinal de que o Moriarty acabou de chegar ao Barts. O compincha que estava de vigia diz ao John que abriu a caça aos gambozinos. Ele sai. O telemóvel do Sherlock recebe uma mensagem do Moriarty, que entretanto chegou ao telhado. Limpinho.

E agora a cena da chegada do John ao Barts:



Alguém avisa o Sherlock que o táxi do John está a chegar – e já cá volto, mas agora adiante. O Sherlock sobe para a beira do telhado (exactamente no mesmo ponto em que se colocou da primeira vez que subiu, por cima do O de PatholOgical). Olha para o lado e vê o táxi a aproximar-se. A partir daqui, já está a ver o John e é só ligar-lhe antes que ele se afaste do sítio certo.
Perfeitamente cronometrado. Ele só sobe para o rebordo quando sabe que o John vem a chegar.

Mas uma coisa é ter um compincha à espreita, que vê o Moriarty a sair de um táxi e sabe que é o momento de ligar ao John. Outra muito diferente é saber em que sítio está o John e exactamente em que táxi. Ok, há uma maneira – por GPS. O Sherlock pode ter seguido a localização do amigo através do telemóvel. Mas gosto mais da outra hipótese: através do Mycroft, o homem que mexe nas câmaras de vigilância como quem zappinga pelos canais da televisão.

Depois de o Moriarty atirar os miolos ao ar, o Sherlock fica ali durante um bocado meio zonzo, completamente enrascado, sem saber muito bem para que lado se virar. É provável que se tenha virado para o irmão. Se há momento em que ele pode ter engolido o orgulho e decidir-se a pedir socorro, é este mesmo. Está prestes a saltar da altura de um quarto andar e, por muito bem que tenha feito os cálculos, a coisa pode correr mal. Há três atiradores a postos que, ao fim de um bocado à espera, e sem mais notícias do chefe, vão abater as três pessoas de quem ele mais gosta. Pior: como o Sherlock não sabe onde é que o Moriary colocou os atiradores – aliás, ele nem sabia que ia haver atiradores – algum deles pode estar num ângulo em que vê o truque, percebe que ele não morreu no trambolhão e manda os outros cumprir a ordem. Ou seja, mesmo saltando e arriscando o pescoço (ou os ossinhos todos e os órgãos internos, mais exactamente), os amigos dele podem levar chumbo na mesma. A mim parece-me que este seria de facto o momento ideal para esquecer as divergências e ligar ao mano. Faz sentido; aliás, no original o Mycroft sabe de tudo desde o princípio e dá-lhe guarida enquanto ele se faz de morto.

Tal como faz sentido que o atirador na área do Barts tenha visto de facto que o Sherlock sobreviveu, porque isso corresponde ao original – o Sebastian Moran, que estava de vigia nas cataratas, vê que ele escapou e atira-lhe pedregulhos lá de cima, passando depois os três anos seguintes a persegui-lo, até pensar que finalmente o encurralou, na história d’A Casa Vazia.

Ainda sobre o papel dos telemóveis, vamos um bocadinho mais atrás, à célebre cena do telhado entre o Sherlock e o Moriarty (os nove minutos de filme que eu já vi mais vezes na minha vida, sem dúvida nenhuma).
Durante o encontro, o Sherlock está a gravar a conversa com o telemóvel – porque é a única explicação para ele se fazer de parvo e fingir acreditar que a chave existe e que o Richard Brook é uma invenção. Começam por falar nos tópicos do esquema – o nome, o código binário, tudo certinho:



E o Moriarty vai apreciando a coisa, sempre em tom de gozo, à espera que ele a seguir tire as conclusões certas. Mas o Sherlock não quer dizer que aquilo é falso, ele quer que seja o outro a dizer, que confesse tudo. Porque está a gravar a conversa, evidentemente. É então que o Sherlock carrega nas tintas e faz de conta que foi completamente levado à certa:



E o pobre do Moriarty fica tão desapontado que se passa ao contrário e finalmente confessa. A coisa não corre tão bem como o Sherlock desejava, porque o outro nunca diz que é de facto o Richard Brook.



“E tunfas, cacei-te”, pensou ele. Não exactamente. Como já disse, o Sherlock já contava que poderia ter mesmo de saltar do telhado abaixo, mas não contava com os atiradores. Acho eu. Posso ter uma granda surpresa no dia 1. Mas pronto, ponto assente: o Sherlock faz-se de trouxa porque está a gravar a conversa. E é por isso que ele atira o telemóvel para o telhado antes de saltar. Para garantir que fica suficientemente inteiro para conservar a gravação.


O objecto preto nas mãos dele.

No entanto, nesta altura a gravação inclui também a confissão do próprio Sherlock, de que afinal era uma fraude. Tanto o John como os outros têm de acreditar que ele se suicidou mesmo e que tinha um bom motivo para isso. Assim não haveria mais perguntas, eles não iriam à procura de respostas e não se arriscariam a dar de caras com os compinchas do Moriarty. Quando ele diz que está a deixar uma nota, tem de estar a falar de uma gravação – senão diria apenas que aquilo era a sua despedida. Não deixava nada. Topam a nuance?



E já agora, reparem também que ele nunca se desmancha abertamente diante do Moriarty. Para alguém que vá ouvir a gravação, vai parecer que o Sherlock tinha mesmo sido enganado. Mas como não podia deixar que o Moriarty pensasse que era mais esperto do que ele, acaba por lhe confirmar que afinal percebera tudo. E como é que ele faz isso? Com a resposta à frase dos anjinhos, pois claro, que já tínhamos ouvido aqui,



e que agora voltamos a ouvir aqui:



“Posso estar do lado dos anjos, mas não penses nem por um segundo que eu sou um deles.”
E com isto, a música faz um estrondo dramático (boiiiing!), o Moriarty percebe que o Sherlock afinal topou o esquema todo e estava só a fazer-se artolas, e a seguir saca da arma e pum! – mas ao menos morre contente.
Ora então isto é claramente um código. Um código que os dois entendem. Para o decifrarmos, precisamos de saber o que raio significa “estar do lado dos anjos”, uma frase idiomática sem grande metáfora – estar do lado dos bons, da justiça – criada pelo Disraeli num outro contexto, mas que pegou com este sentido. Aqui, o Moriarty está a referir-se a outros anjos – um determinado grupo ou até um marco na paisagem que defina uma divisão.
 Muita pena se me estou a arrastar demasiado e a deixá-los todos cheios de fungas para saber a resposta, porque eu também não faço ideia. E não imaginam as voltas que eu já dei. Pelos vistos não foram as suficientes. Arrrrgh!


Mas o facto é que é esta frase que revela finalmente o jogo. O Moriarty fica tão contente que quase dá um abraço ao Sherlock (vemos a mãozinha dele prestes a tocar-lhe no ombro quando lhe diz obrigado); e é nesta altura que deixa perceber alguma perturbação, porque sabe que o jogo chegou ao fim e que está na altura de ir literalmente para o lado dos anjinhos.
Por muito que eu preferisse esta versão:



Mas não. O Moriarty morreu mesmo. No entanto, o corpo desapareceu. E como é que sabemos disso? Pelo título do jornal e pela notícia da televisão:



Vídeo do "noticiário" no blog do John:



Nenhum deles fala no suicídio do Richard Brook. Se tivessem encontrado o corpo, os títulos diriam que os dois sócios se tinham matado na véspera do escândalo.
Podemos até alvitrar que o Moriarty tenha acabado por ser enterrado na sepultura do Sherlock (“You are me!” – perfeitamente apropriado, então). Não é assim tão rebuscado. Pelo menos sempre teriam alguma coisa para meter no caixão. Mas como o primeiro episódio da terceira série se chama The Empty Hearse (a carreta vazia), provavelmente meteram lá só uns sacos de areia para fazer peso e mais nada – o que é uma pena, porque seria uma bela hipótese.

E agora o trambolhão. O célebre trambolhão. Como é que o gajo caiu de um quarto andar e ficou vivo? Pois também não sei.

(esta é para mim)

Só sei que aparou a queda com uma engenhoca mínima e fácil de desmanchar em segundos. Da primeira vez que o Sherlock sobe para o rebordo do telhado, pede ao Moriarty para se afastar, não só para poder mandar a tal mensagem a avisar que vai saltar, como para que o outro demore alguns segundos a voltar até à berma e a espreitar lá para baixo. Quando o Moriarty olhasse, ele estaria estatelado no passeio e o dispositivo já teria desaparecido. Portanto é qualquer coisa mesmo muito discreta.

Até agora, a teoria mais gira que encontrei foi a dos ímanes. Que teriam sido postos no quarto do miudinho como um indício, tipo mensagem subliminar:



Porque realmente, quem é que ia reparar numa coisa destas? Conseguiram ver os coisos? As ferraduras em cima da mesa:



A teoria diz que isto é uma alusão ao dispositivo que lhe aparou o trambolhão – nada menos do que uma máquina de ressonância magnética instalada na cave do Barts, por baixo do passeio. A Molly ligou o aparelho no máximo e amorteceu a queda do Sherlock, entre o telhado daquela casa que tapa a vista do John e o passeio. Eficaz, limpinho e explicaria tudo muito bem.
Infelizmente, isso é impossível. As experiências mostram que é preciso uma potência de 16 teslas para fazer levitar uma rã, e um aparelho de ressonância magnética hospitalar não dá mais de 3 teslas. Podemos portanto descartar essa hipótese. Ora bolas.

O camião dos plásticos tem quase de certeza parte activa no esquema, quanto mais não seja para encobrir o tal dispositivo. Assim de repente, um insuflável até parece plausível, mas tem muitas falhas.
Não poderia estar em cima da camioneta, a não ser que ela tivesse parado em cima do passeio, porque o Sherlock não salta com impulso; deixa-se cair simplesmente.



Se estava no chão, o insuflável teria de ser puxado (aspirado?) para cima da camioneta em segundos, de modo a parecer apenas um molho de sacos de plástico. Difícil. Além disso, o camião tem uma rede de metal em volta da caixa. Se o Sherlock acertasse no rebordo da rede, ia ficar em muito mau estado (para não dizer cortado em dois).
E depois, mesmo com um insuflável – e teria de ser um graaande insuflável – ele arriscava-se a partir uns quantos ossitos.
Recapitulando: teve de ser um dispositivo discreto, fácil de desmontar ou de camuflar, altamente eficiente e ali à mão de semear, porque ele e a Molly tiveram muito pouco tempo para reunir o material. Difícil. Muito difícil. Estou aos pulinhos para saber a solução. Calculo que vocês também.

Quanto à falta de pulsação, já toda a gente falou na bolinha de borracha metida no sovaco, assim como no facto de ele cair de barriga para baixo e aparecer depois no passeio virado para o lado (para apertar mais a bolinha), e de ter ficado com o corpo paralelo ao prédio, depois de ter caído na perpendicular – porque não caiu directamente no passeio, claro.
Os compinchas enfarruscam-lhe a cara com sangue nos sítios certos, o médico que lhe está a palpar a pulsação no pescoço obriga o John a tomar-lhe o pulso no pulso (...eheheh) e o facto de o levarem logo na maca para dentro do hospital, sem um colar cervical nem nada (o que quer dizer que já confirmaram a morte), só pega porque o John está meio atordoado.
Ok, não sei como são os procedimentos em Londres, mas por aqui, quando há um morto na rua, tapam-no com uma manta e deixam-no ali durante um grande bocado, enquanto montam o arraial, fecham o perímetro, tiram fotografias e inventariam todo o tipo de indícios. Aliás, é o que vemos a bófia britânica a fazer logo no primeiro episódio, no caso do suicídio da mulher de cor de rosa. Calculo que a melhor desculpa para estes procedimentos anormais no caso do Sherlock seria o facto de estarem à porta de um hospital. Mas já toda a gente falou nisto.

Outra coisa de que toda a gente já falou foi a cena dos gritos. Tenho encontrado pela net as teorias mais rebuscadas a respeito de um duplo do Sherlock, ou de uma máscara com a cara dele, para justificar os gritos da miudinha assim que ela olha para ele. Vamos pela hipótese mais simples: o que ela viu foi a roupa. O fulano que raptou os putos tinha uma figura parecida com a do Sherlock, um casaco igual, um cachecol igual e um barrete enfiado pela cabeça abaixo, daqueles que só deixam os olhinhos de fora. Ela viu a roupa e pensou que era o mesmo gajo sem o barrete. Fácil.



É claro que a artimanha do Moriarty só funciona por mera sorte – ou porque isto é fita. Na vida real, o Sherlock teria tirado o sobretudo quando chegou à Scotland Yard, porque lá dentro está tudo aquecido – a Donovan está toda fresca, em mangas de camisa – e a miudinha nunca teria reagido.

Muito menos falada, foi a cena bolacha. Esta aqui:



Depois desta tradução da net e a da televisão encabada terem metido água com o “German” (ok, em inglês as nacionalidades escrevem-se com maiúscula e faz confusão, é compreensível), finalmente a RTP percebeu a ideia e traduziu correctamente: alemão. O que a Mrs. Hudson diz é que o nome do fulano que enviou a encomenda era alemão.
Com todas as referências aos contos de fadas que impregnam o episódio, a encomenda poderia ter sido enviada por um tipo chamado Grimm. Mas seria muito fácil a Mrs. Hudson recordar-se do apelido, além de não reconhecer imediatamente o nome como alemão (praticamente igual a grim, em inglês). Inclino-me então para um nome inventado e meio disfarçado, como Rumpel S. Tilzchen, por exemplo. Ela estaria familiarizada com a adaptação do nome para Rumpelstiltskin (em alemão, a personagem chama-se Rumpelstilzchen) e isto soar-lhe-ia a qualquer coisa conhecida, “como o conto de fadas”, embora não conseguisse reproduzir o nome.
Ora o Rumpelstilzchen é o tal duende malvado que desafia o pessoal a adivinhar o seu nome. Mais um indício de que o Moriarty se chama de facto Richard Brook.



“And preety grim ones too” – de certeza que o termo também não foi escolhido por acaso.

E pronto. Assim de repente não me lembro de mais nada para aqui pôr – mas vou-me lembrar assim que publicar isto, que é já o costume. E agora é só mais uns dias até ter as respostas e ver se acertei em alguma.
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agradecimentos ao http://sc.aithine.org/sherlock/ pela publicação dos screencaps e ao pessoal que publicou o vídeo legendado

9.8.13

Diário do Oeste - 46

Ermita desaparecido nos últimos tempos para fazer justiça ao nome, sem grande coisa para contar sobre os entretantos - mas montes de photos para mostrar, como de costume.

O progenitor do ermita apareceu na Terra dos Loureiros algures no mês de Julho, mais para seguir o calendário do que o clima, que por aqui é sempre um tanto ou quanto ranhoso. Hoje, por exemplo, está um calor do caraças mas aqui em cima no ermitério faz um badanal daqueles em que vai tudo pelos ares. Até já tive de pôr os tomates para dentro, antes que o vento os deitasse abaixo. E por falar nisso, ora cá vão os lindos tomates do ermita:

É um vaso de tomateiros cherry, com montes de cachinhos destes, e alguns já começaram a ganhar cor:


Agora que já mostrei os tomates, voltemos então ao progenitor. Estava à espera que ele viesse para finalmente ir até à praia à cata de calhaus, mas afinal quase não pus lá o cu. Há que esperar que ele volte a fugir do calor de Lisboa e que entretanto o belo tempinho característico do Oeste estabilize mais um 'cóchito - talvez lá para Setembro / Outubro, como de costume.

Ora então cá vão umas quantas photos das minhas escassas voltinhas à beira mar, onde desta vez nem sequer encontrámos nada de assinalável e onde tive de me contentar a fotografar o que ia aparecendo, para não perder a prática.
Como aqui este pedregulho aos buraquinhos cheio de areia nos ditos:


No ano passado a praia do Porto das Barcas tinha montes de pedregulhos feitos de amálgama de conchas fósseis. Este ano continuam lá, evidentemente, mas os pedregulhos estão agora todos vestidos de verde:
 Muito lindo mas não se vê um boi, quanto mais as conchinhas.

Um contraluz por cima dos calhaus:

E um pedregulho com um estranho padrão de riscas salientes:

Um tronco de madeira carcomida carregadinha de percêbes já defuntos:

Um cacho de casquinhas:

E um deles em grande:

Mais adiante, outro defunto; um bebé de estrela do mar:

Lindo, perfeito e... morto.

E mais um defunto, mas desta vez menos deprimente porque já tem tantos milhares de anos que não podia andar ainda por aí a dar ao rabo. Um ossito de dinossauro na Areia Branca norte:
O meu pé em cima do calhau onde ele está metido é para dar uma ideia do tamanho do coiso (e a minha pata é pequenita, é um 35/36).
Um P perfeito. O risquinho preto mais à frente também é osso:

E agora umas lindas alforrecas debaixo de água, vivinhas da silva, que é para contrabalançar:


E um escaravelho da batata a passear pela minha mão - oh tão giro:


E já que estou a mostrar bicharocos, cá temos mais uma osguinha:
Não parece um dragãozinho? E eu bem que a tentei destacar da parede para lhe tirar o retrato da praxe na minha mão, mas ela não gostou da brincadeira e escapuliu-se por entre os meus dedos em fracções de segundo. Porque estas meninas só têm um aspecto letárgico enquanto não aparece nenhum marau a chateá-las.

Da primeira vez que fui à praia dei comigo cheia de fungas de ter ali uns binóculos para observar as camadas da barreira por ali acima. Por isso, à segunda fui prevenida com uma espécie de cinto de ferramentas devidamente apetrechado com um canivete suíço, a câmara, os binóculos e até uma bolsa de primeiros socorros, com toalhetes desinfectantes e pensos rápidos, não vá o diabo tecê-las. Faltou-me a lupa. Uma lupa dá sempre jeito, sobretudo quando um ermita começa a ficar meio pitosga, que é uma chatice do caraças para quem costumava ver os mosquitos na outra banda e ler letrinhas microscópicas, como um aviso que aqui há uns anos vinha numas drageias de mentol, azulinhas e redondinhas, e que dizia "não comer a caixa". Sério. Gostava de poder ilustrar, mas entretanto deixei de as ver à venda no supermercado. Talvez tivessem ido à falência depois de pagarem a indemnização ao totó que justificou o aviso.
E então isto aqui é o ermita devidamente apetrechado para as praias do Oeste:
Olééé!

A saber: 
- um boné enfiado nos cornos, para não torrar os miolos; 
- os óculos escuros indispensáveis; 
- uma gabardine curtinha e fininha, que serve de corta-vento; 
- o tal do cinto cheio de bolsas com a tralha toda, que serve também para ir metendo os calhaus que for encontrando; 
- e uns calções curtinhos para poder andar dentro de água e baixar-me à vontade sem mostrar as cuecas. 
Falta-me a lupa, um bocado de corda de pára-quedas (que ainda não sei onde vou arranjar), um telemóvel com GPS e câmara fotográfica, que seria um 2 em 1, e talvez uma lanterna de leds, daquelas pequeninas mas muito potentes, porque às vezes dá jeito para espreitar para dentro dos buracos dos pedregulhos.

Um pára-pentista a pára-pentar na Areia Branca sul:
Calhando ainda vou perguntar a um destes gajos que alugam pára-pentes onde é que eles arranjam a tal corda de pára-quedas, também conhecida como paracord. A primeira vez que ouvi falar no paracord, que é um cordelinho fininho mas altamente resistente, foi a admirar a bela mochila de sobrevivência que apareceu no Things in my bag, um site em que o pessoal mostra a tralha que traz dentro da mala. 
É esta aqui, ora vejam:


Maxpedition Sitka, an awesome little bag.
Lifeline steel water bottle, 800ml.
Casio G-Shock watch, solar powered and IED proof.
Oakley Flak Jackets, orange tint.
Paracord bracelet, about six feet worth.
First Aid Kit, a basic boo boo kit.
Wallet, IDs, debit card, 20 bucks cash, quick reference card.
Rite-in-the-Rain notepad, I haven’t actually used it in the rain… yet.
Pocket Bible, always good to have.
U.S. Constitution, also good to have.
Asus Netbook - For on-the-go Tumbling and pr0n.
Glock 19, with 31 cartridges, in case of zombies.
SOG Powerlock 2.0, most useful item here.
Benchmade 580, always on my right pocket.
Surefire G2, an hour life at 60 lumens.
Zippo, because magic tricks are cool.
Flashdrive, 8gig.
Gum.
Cellphone, even though no one ever texts me
Canon G9, for the inner photo nerd.
Zune HD, 32 gigs of ear sex.
Nintendo DS, currently grinding my Soul Silver team.
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A legenda é do dono da mochila, evidentemente. É claro que o pistolão é que me encheu mesmo as medidas, mas os artigos parecem-me muito bem planeados para quem faz actividades ao ar livre. 
Calculo que o Novo Testamento, a constituição dos EUA e o pistolão façam parte do mesmo pacote - o gajo mostra-lhes que está no seu direito, dá-lhes um tiro e a seguir encomenda-lhes a alma. 'Tá certo.

E agora só mais uns palitos amarelos para encerrar o tema da praia:



Só porque eu achei giro.

Aqui há dias, um amigo do ermita estava a botar fotografias antigas um tanto bizarras no seu facebook e às tantas apareceu-me esta no mural e é claro que a minha mente perversa pensou logo que era outra coisa. Seguem-se os nossos comentários.

E pronto. Tinha de levar com ela, n'é verdade? Actualmente, é como um gajo dizer que gosta de vampiros e levar logo com o raças do Twilight. Ou melhor...
Hihihihihi... Assim ainda talvez me convencessem. 

Enfim, umas meninas lembraram-se de escrever umas xaropadas açucaradas para quem nunca se tinha interessado pelo tema (seja BDSM ou vampiros) e a malta achou que era novidade e vuuum!, atirou-se àquilo que nem moscas. Meninas espertalhonas, é um facto. 
Não li nenhum deles, nem o dos vampiros nem o dos sado-masocas, mas depois de ver o pessoal todo com um volume do 50 tons de Cinzento debaixo do braço (eu sei, eu sei, não é gralha, foi de propósito ;), perguntei à comadre que raio era aquilo, uma vez que ela também tinha um exemplar no saco da praia. E então a comadre começou a contar-me o enredo do livro e eu desatei a interrompê-la e a concluir-lhe as descrições com as cenas do Nove semanas e meia. É impressão minha ou aquilo é simplesmente mais do mesmo? Ok, o filme até era giro e teve a sua época, mas a história da menina que vai atrás da conversa de um tarado que não conhece de lado nenhum já está arrumada e assim deveria continuar. Porque na verdade não é nada boa ideia apresentarem uma situação dessas com um ar apelativo. Estes entusiasmos com a "novidade" entre o grande público (= artolas e verdinho) podem ser perigosos. O BDSM é um jogo onde a confiança é fundamental, ou seja, NUNCA se faz com um gajo qualquer que se acabou de engatar. E depois, mesmo entre casais com confiança q.b. para se meterem em florestrias dessas, pelo menos o parceiro dominador TEM de saber o que está a fazer. As experiências entre artolas verdinhos (= grande público) acabam frequentemente por dar merda. 
Se a ideia era ficar cheio de pica na última época estival, acho que o pessoal teria feito melhor em investir num vibrador do que em romances da corda. Mas pois, isso não dá para usar na praia nem no comboio - estava a esquecer-me desse pormenor.

Mas querem coisas picantes? Ora tomem lá vespas:
Pois isto aqui é o tal ninho de vespas do meu estore, de que já tinha falado no Diário anterior. Nessa altura eu estava mais preocupada com as pobres das vespas, que estavam a morrer aos magotes. Chegando as pobrezinhas ao seu prazo de validade, contratei então um jeitoso para vir cá mudar as fitas dos estores e limpar o ninho vazio (até porque a persiana já nem rodava, evidentemente). E o que ele encontrou foi esta bela colmeia dentro da caixa.
Saiu aos bocados e não foi lá muito fácil de tirar. Aqui um dos pedaços maiores, onde se pode apreciar o belo trabalhinho das vespas:
Uns casulos perfeitinhos, iguaizinhos e certinhos - uma maravilha.

Que lembra bastante estas formações de areia que outros bichinhos fizeram na praia, nos rochedos à beira mar:




Não fui investigar qual é a espécie que faz estas colmeias marinhas, mas deve ser uma prima afastada das vespas. Só pode.


Falámos em coisas picantes; e agora, querem cenas sexy?

Ora aqui vai - e nunca vocês imaginaram que os calhaus que eu trouxe da praia pudessem ser tão sexys para o meu gato:
 Até parece um bailado...

 O bailado do roça o bigode no calhau.

'Tou doidona! Weeeeee!

É um facto, eu devia era ter filmado isto. Mas pronto.

As minhas meninas em cima da estante. Elas adoram poleiro.

 Pela expressão da Zoya, dá para perceber como isto a diverte.

 A Zoya interessadíssima nos pombos que andavam aos pulos na varanda.

A Pixie não se entusiasma tanto com as alturas e aproveita sempre para fazer a toilette enquanto a outra anda cheia de energia a gozar a novidade.

Pixie no vaso, em duas versões:

Nhááááá... que sono:

Zoya na mesa da varanda:

Zoya na janela da varanda:

A atracção dos sacos das compras - tanto servem para nos metermos lá dentro...

...como para nos rebolarmos em cima:

Equilibrismos na casa de banho:

Zoya ao espelho.

Pixie a ver televisão no sofá - embora o programa não fosse dos que mais lhe agradam; ela gosta de documentários com texugos, suricatas e afins, enquanto a Zarosky gramava tudo o que metesse passarinhos ou lobos.


À janela a ver quem passa... ou ao microondas, que vai dar ao mesmo:

Pixie na varanda:
Nas photos de hoje ela até parece uma gatinha sossegada e pachorrenta, n'é? Pois é só aparência. Garanto.

Comprei o pacote das batatas de propósito para lhe tirar o retrato - claro que acabei por comê-las, mas não faziam parte da lista das compras até dar com os olhos nesta pérola:
Então em que é que ficamos...? 
(provavelmente só eu é que acho piada a isto, mas quero lá saber...)

E agora, alguém adivinha de quem são estas casquinhas? 
Pois são ovinhos de andorinha, minúsculos e de casca mole. As crias eclodiram e os papás atiraram as cascas borda fora para limpar o ninho. E eu apanhei-as no passeio lá em baixo, junto à porta do ermitério, e é claro que tive de lhes tirar o retrato.

Façam caretas!, disse eu. E elas fizeram. Ah lindas:
A madrasta e a tia numa voltinha higiénica para desmoer o almoço.

E para fotografar florinhas, ora bem, ou pensavam que já tinham escapado a levar com mais uma catrefada delas? 












Remato com uma coisa que eu ainda tenho de tirar a limpo - o que será isto? Uma couve mutante, uma espécie diferente ou um tipo qualquer de moléstia nas folhas?

E ainda uma coisa gira que encontrei no Baleal no ano passado e que não chegou a entrar não sei porquê:

E pronto, vou jantar.