14.11.08

Diário do Oeste - 27

Ermita disfarçado de cebola, a teclar com umas mitenes nas mãos, uns peúgos de lã e uma termotebe cá por baixo da camisola de gola alta, praticamente só com os olhinhos de fora. Isto é ridículo, mas está mais calor na rua do que dentro da minha casa, que ainda por cima apanha sol por todos os lados e deveria ser quentinha, mas não, que isto aqui é húmido com'ó caraças e o frio repassa tudo. Clima marítimo, topam? Vejo o mar lá ao fundo, da varanda da sala, com as Berlengas e tudo.
E já agora, vocês lembram-se das termotebes? Aparentemente desapareceram do mercado (ou pelo menos da televisão) e eu acho que sei porquê. Eu tenho três, quase novas, e fui buscá-las ao sótão porque o frio impunha medidas drásticas (e porque eu não 'tou p'ra pagar outros 200 euricos em acertos de electricidade à conta do aquecimento). Drásticas, pois, porque as termotebes têm um problema chato: cerca de duas horas depois de vestidas começam a cheirar a cavalo, como se o indígena já não tomasse banho há mais de três quinze dias. Deve ser da fibra. Mas enfim, como está por baixo da camisola de gola alta, não se nota nada – só tenho de tapar o nariz quando me despir e de dar mais uma lavadela à gato antes de vestir o pijama.
Mas adiante.
Sexta-feira, dia de ir às compras com a tia.
Levantei-me às oito e meia e cheguei lá às onze - não me perguntem como, que eu moro a cerca de seis quilómetros.
Ah, mas entretanto encontrei este mosquito no meu lindo lava-louças amarelo, de que já aqui falei (do lava-louças, não é do mosquito, evidentemente), e é claro que tive de lhe tirar o retrato antes de o pôr na rua.
Ok, não é desculpa para ter empatado tanto tempo, mas pronto.
Cheguei lá e assim que estacionei o carro comecei por apreciar esta bela pintura que fizeram na laranjeira da Odete:
Ou isto é uma instalação artística, ou o fulano que andou a pulverizar era um bocadinho vesgo.
Do outro lado da rua, quase à porta da tia, aproveitei para fotografar a arvorezinha que me costuma dar alguma sombra em cima do carro durante o Verão, agora com as antenas todas no ar:
Acho que já estava na altura da Junta mandar fazer uma poda por aqui, não?
Abri o portão e entrei à procura dela. A porta de casa estava fechada, mas tinha este papelinho pendurado na cortina
o que quer dizer, em linguagem de tia, que não está em casa porque foi ao café das bombas.
Meti-me outra vez no carro e fui até lá. Apanhada a tia, seguimos então para Torres, onde passei por este grafitti:

Hã?
Pensei que era só mais uma dose de surrealismo suburbano, bastante divertido, diga-se, mas entretanto fiz uma pequena investigação pela net e descobri que é um grupo de grafiteiros e/ou rappers lá do Cacém City onde eu morei. E eu sempre reparei em grafittis e até costumava tentar decifrar-lhes as letras arrevesadas enquanto estava à espera do comboio, mas nunca vi nenhum sinal destes moços enquanto lá estive; foi preciso passar em Torres e reparar nisto.
Compras feitas, deixei a tia em casa e aproveitei para deitar a luva à Sally, desta vez para tirar o retrato com ela.
E a tia não me cortou a cabeça nem nada (!!!).
Como não podia deixar de ser, tirei mais umas às flores. E assim, temos aqui uma coisinha amarela no quintal da tia
uma buganvílea ao pé do café
e uma planta gira que vi lá em Torres.
O fundo preto é o meu casaco, que a tia fez o favor de segurar, como podem facilmente perceber.
Voltei pela EN 8-2, onde havia uma bicha do caraças, coisa rara por aqui. O motivo era um velhinho dentro de uma daquelas carripanas que não dão mais de 50 à hora e que por isso mesmo não precisam de carta. Este binómio do velhinho/carripana já costuma ser suficientemente mau, mas agora ponham-no naquele bocado da EN 8-2 a seguir à Carrasqueira, onde temos duas rectas razoáveis e o resto é tudo curvas e traços contínuos. É que aquilo é como uma bicicleta gorda; não dá para chegar à berma e a gente passar ao lado. Pior do que isto só mesmo apanhar um tractor pela frente. Que também os há por aqui.
Voltei para casa, tirei a roupa, disfarcei-me de cebola e cá estou eu agarrada ao computas.
E entretanto acabo de gastar exactamente € 842,70 para pagar o IVA e a segurança social, o que me faz lembrar aquela frase que dizia "o sexo não tem nada a ver com o amor; o governo fode-me há anos e eu não estou apaixonado por ele."
Isto do IVA é um grande mistério, que também já me explicaram mas que é do género do esticador na parede (ver Diário 25); ainda não entendi um boi. Eu cobro o IVA ao patrão, né? E depois, quando chega a data, dou esse mesmo dinheiro ao Estado, certo? E em seguida o Estado reembolsa o meu patrão - segundo me disse a moça da contabilidade - e fica tudo outra vez na mesma. Ora então que raio é que se passa aqui? Porque é que a massa anda a dar estas voltas todas? Assim de repente, isto mais parece um esquema qualquer de branqueamento de capitais, mas como não há mafiosos pelo meio e está tudo escarrapachadinho nas Finanças, suponho que seja pelo gozo que os meandros burocráticos devem dar a algumas mentes perversas.
E eu estou-me a queixar porque o patrão ainda não me pagou (eu recebo a 45 dias depois da entrega do recibo verde - esta também é gira...), mas entretanto chegou a data do IVA e as Finanças não querem saber de pormenores - 'tá lá escrito que recebeste, portanto pagas e não bufas. E é assim que eu passo a vida a largar a massa que ainda não recebi.
Termino com um bocadinho de publicidade ao livro que a minha prima Bárbara acabou de lançar e que eu já vi à venda lá em Torres. A capa é esta:
É útil, é baratinho, e a miúda escreve bem. Tratem de comprar.

10.11.08

Diário do Oeste - 26

Halloween em casa da Elsa e do Francisco; não exactamente uma festa, mais um encontro. Pendurámos abóboras e espalhámos velas por todo o lado e entretanto o pessoal foi chegando. Foi bom rever o grupinho dos geeks que frequentava o bar da Elsa - no tempo em que a Elsa tinha o bar onde eu me enfrascava aos fins de semana, quando morava em Cacém City. Entretanto ela passou o bar, eu mudei-me para a Terra dos Loureiros e nunca mais vi aquela malta. Tinha algumas saudades da conversa; não sei bem como, embora se fossem sucedendo uma série de temas encadeados uns nos outros, acabávamos sempre por passar pela física quântica, embora eu pouco pesque sobre o assunto e tenho a impressão de que eles também pouco mais. Se eu acreditasse em astrologia (ou noutra coisa qualquer, aliás), diria que era por pertencermos todos a signos do ar - duas balanças, dois gémeos e um aquário; pegávamo-nos na conversa e aquilo durava horas. Mas quanto a isso tive de continuar com as saudades, porque aquilo de que os geeks mais gostam, bem mais do que da conversa, é de qualquer coisa que tenha um ecran à frente e uns botõezinhos para carregar. O pessoal agarrou-se à wii do Francisco e pronto, foi o programa da noite. Vinguei-me em três cervejas e meia e nos salgadinhos. Mas até foi fixe.
Ninguém foi mascarado, mas isso também não é de estranhar, porque já no bar da Elsa eles também se costumavam baldar. Menos eu, que sempre tentei ir a rigor, como nesta photo para amostra, do Halloween de 2005 lá no bar, com dois moços do tal grupinho, o Carlos e o João.
E para quem não percebeu, eu estava disfarçada (disfarçada...?) de dominatrix, o que me leva lindamente ao próximo tema, que é a Gathering Party do próximo dia 15, desta vez num sítio onde aparentemente se consegue estacionar com facilidade (!!!), mas a que muito provavelmente não vou poder ir - porque sozinha não vou e nesta altura nem sequer estou a ver possíveis acompanhantes. Mas é da maneira que fico em casa a trabalhar, que estou outra vez apertada com os prazos (o costume).
O cartaz é talvez o pior que eles já fizeram, mas suponho que têm de se restringir às imagens que lhes fornecem. O anterior era óptimo, classudo até, mas enfim, a coisa nem sempre corre tão bem em termos de design.


Tal como aconteceu aos que fizeram esta bela composição para um painel de azulejos, por cima da porta do lar dos idosos da Santa Casa da Misericórdia da Terra dos Loureiros. Realmente, o que os velhotes estavam a precisar era de encararem com uma caveira sorridente logo à entrada. Chiça...
Rai'staparta mais à ideia.


Enquanto a minha tia lá ia dentro, eu fiquei cá fora a fotografar o que encontrei, como estes cravos túnicos em amarelo, todos molhados de uma chuvada recente,

estes frutos de roseira bestialmente grandes,

e folhas de couve ratadas dos caracóis, com gotas de chuva que rebolam mas não molham.
Fui andando para a parte de trás do complexo, onde eles têm as hortas, e às tantas apareceu-me uma empregada do refeitório (a avaliar pela touca) a perguntar o que eu queria. Disse-lhe que andava a tirar fotografias e continuei. Ao dar a volta, veio uma outra ao meu encontro, esta já com ar de funcionária burocrática, a querer saber a que é que eu estava a tirar fotografias. Antes que eu respondesse, perguntou logo toda ansiosa se era ao prédio e aos interiores. Disse-lhe que só estava interessada nas couves e nas bolinhas giras e continuei o meu passeio. Pelo que me contou a minha tia à saída, na recepção também estavam um tanto apreensivos "porque andava ali uma mulher só a tirar fotografias..." Ok, nós sabemos que eles já estão bastante escaldados com jornalistas e afins, mas pela amostra deve ser realmente um stress do caraças trabalhar num sítio destes, se passarem a vida a ver espiões e conspirações de cada vez que passa um turista.


Eu então vejo logo é qualquer coisa para tirar o retrato, como este bicharoco giríssimo de pelinhos louros que eu encontrei a passear no cabelo da tia:
Para fazerem uma ideia do tamanho deste escaravelho cabeludo, essa é a unha do meu mindinho, que tem um centímetro de comprimento.
E mais uma, agora visto por cima. Sempre gramei à brava escaravelhos e nunca tinha visto um exemplar destes. Acredito que seja um bicho comum apanhado numa fase de transição, mas não tenho a certeza porque não consegui encontrar nada parecido na net.


Quanto a estes, encontram-se muito por aqui, até na placa da casa dos móveis na rua do meu pai:
Um gafanhoto a apanhar sol ou a ver as vistas, já que por aqui perto não há nada que se trinque.
No caso dos filhotes da Riscadinha, eles já trincam tudo o que lhes cai no prato mas a teta da mãe continua a ter um atractivo muito especial.
E como já estão uns matulões, a pobre da Riscadinha fica lá debaixo a levar com eles, só com as orelhinhas de fora.
Haja pachorra para aturar uma família numerosa.


Família que se estende pela vizinhança. O matulão é primo da Riscadinha, o Tininho, e o minorca é filho dele. Não sei se já tem nome, porque até agora ainda só lhe ouvi chamar "o canininho".

Por falar em rebentos, a última do meu irmão foi ter pintado o cabelo de preto, o que eu não acho nada mal, porque praticamente ele já tinha o cabelo naturalmente preto, mas a seguir ao Verão ficou com umas manchas castanhas e desbotadas por causa do sol. Se ele me tivesse falado nisso, eu teria recomendado que usasse antes um castanho muito escuro para não ficar a parecer artificial, tipo peruca sintética, como a do meu disfarce do Halloween na fotografia lá em cima - porque ninguém tem o cabelo realmente preto preto.
Assim como lhe poderia ter recomendado que pedisse ajuda... É que eu só soube disto porque a minha madrasta me ligou toda furiosa, a perguntar se eu sabia como se tirava tinta de cabelo, porque pelos vistos o meu irmão e a namorada meteram-se na casa de banho sem dizerem o que iam fazer e quando saíram havia tinta preta por todo o lado - nas toalhas, no armário, na cortina, no chão, nas paredes e nas mãos deles, que pelos vistos não puseram as luvas e ficaram com as unhas encardidas, como se tivessem andado a apanhar batatas. Enfim, putos...


E se por acaso alguém olhou agora para a coluna aqui ao lado e reparou que já lá não está "o irmão do ermita", esclareço que isso não se deve aos desastres na casa de banho nem nada do género, mas ao facto do hi5 dele se estar a tornar altamente incómodo, porque o que começou por ser alguma irreverência divertida de repente transformou-se numa exibição de mediocridade. E eu nunca suportei ficar a assistir a figuras tristes. O que é uma decepção, porque ele até parecia ser um puto esperto, mas afinal saiu igual aos outros todos.


Passando a coisas mais alegres, temos aqui a Sally, “um argumento para ter gato”, como o veterinário lhe chamou.
A Sally está agora com sete meses, se as contas não me falham, e é o protótipo do bichano inteligente, meiguinho e altamente independente. Tão independente que podia ter ficado em casa e tornar-se o terceiro gato oficial da tia, mas prefere andar pelos telhados com o irmão, o Shy, esta lindeza aqui em baixo que, ao contrário dela, é um assustadiço que não dá confiança a ninguém.
As cores dele, o pelo bege e os olhos claríssimos, fazem-me lembrar um husky em versão gato. As photos tiveram de ser tiradas com o zoom, porque ele não deixa que eu me chegue perto.
E termino com a minha banda sonora do momento, enquanto estou a trabalhar – HIM (ou Ville Valo, mais exactamente) em versão acústica. Nesta altura ele ainda era um puto de vinte e poucos anos que costumava aparecer todo pintalgado nos clips da banda, a explorar uma imagem de lindinho duvidoso. Aqui é ele mesmo, de cara lavada, a cantar a sério, com caretas e enganos pelo meio, sem a preocupação de fazer olhinhos para as pitas se derreterem. Lindo lindo.

E para os imbecis que se lembrarem de dizer que isto é emo, considerem-se desde já com um granda pontapé virtual nesses fundilhos.